Perguntei pra minha mãe _Mãe, onde é que você nasceu? Ela então me respondeu Que nasceu em Curitiba Mas que sua mãe que é minha avó
Era filha de um gaúcho Que gostava da churrasco E andava de bombacha E trabalhava num rancho
E um dia bem cedinho Foi caçar atrás do morro Quando ouviu alguém gritando Socorro, socorro
Era uma voz de mulher
Então o meu bisavô Um gaúcho destemido Foi correndo galopando Imaginando o inimigo
E chegando num ranchinho Já entrou de supetão Derrubando tudo em volta Com o seu facão na mão
Para o alívio da donzela Que apontava estupefata Para um saco de batata Onde havia uma barata
E ele então se apaixonou
E marcaram casamento Com churrasco e chimarrão E tiveram seus três filhos Minha avó e seus irmãos
E eu fico imaginando Fico mesmo intrigado Se não fosse uma barata Ninguém teria gritado
Meu bisavô nada ouviria E seguiria na caçada Eu não teria bisavô, bisavó Avô, avó, pai, mãe Eu não teria nada
Nem sequer existiria
Perguntei para o meu pai _Pai, onde é que você nasceu? Ele então me respondeu Que nasceu lá em Recife Mas que o seu pai que é meu avô
Era filho de um baiano Que viajava no sertão E vendia coisas como Roupa, panela e sabão
E que um dia foi caçada Pelo bando do Lampião Que achava que ele era Da polícia, um espião
E amarraram ele num pau
E se fez a confusão Pra matar depois do almoço E ele então desesperado gritava Socorro, socorro
E uma moça apareceu Bem no último instante E gritou para aquele bando _Esse rapaz é comerciante
E com muita habilidade Ela desfez a confusão E ele então deu-lhe um presente Um vestido de algodão
E ela então se apaixonou
Se aquela moça esperta Não tivesse ali passado Ou se não se apaixonasse Por aquele condenado
Não teria bisavô Nem bisavó nem avô Nem avó nem pai Pra casar com a minha mãe
Então eu não contaria Essa história familiar Pois eu nem existiria Pra poder cantar Nem pra tocar violão Paulo Tatit e Sandra Perez
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