No princípio era o vermelho... O vermelho da luta com as trevas. O vermelho do barro soprado e o fermento vermelho das idéias. Todos fomos feitos à mesma imagem e semelhança daquele, num universo veloz que pretende o vermelho, conforme ensinaram Einstein e Jesus Cristo, às suas maneiras. Vermelhas são as frutas venenosas, vermelhas as entranhas saborosas. Vermelha é a vontade de voltar sorrindo do que se partiu chorando. Vermelho é o tempo se fechando num círculo vicioso. Vermelho é o que mata. Vermelho é mais gostoso (e também ilegal, imoral e engorda). O vermelho do ventre materno, o vermelho do pênis paterno. Vermelhos são os tapetes onde os reis esfregam-se nos súditos arrebatados. Vermelhas as Ferraris do bacanas. Vermelhas as frieiras dos coitados. São vermelhas as doses de pimenta. O mesmo vermelho expelido na placenta. O vermelho inflamado da gengiva, o vermelho excitável da vagina. Vermelha é a tendência do espinho. Vermelha é a chupada do carinho. Vermelho é o preço da maturidade. Vermelha é a intenção da caridade. O Bradesco, o Mc Donald’s, a Coca-Cola. O capitalismo fica vermelho, sem vergonha. Vermelho é o olho magoado da maconha!
É vermelho o cabelo das megeras. É vermelha a maçã da bruxa, como vermelha é a flor da primavera. O Homem-Aranha, a Mulher Maravilha, o Super-Homem, os super heróis costumam ser super vermelhos de injustiça! Há épocas mais vermelhas que outras: épocas de moranco e reinvindicações; épocas de lagosta e de porões; épocas de ibiscos e épocas de tensões. São épocas de alto risco. O maior dentre os perigos! A emergência destrambelhada é igualmente vermelha. A cruz da ambulância da cruz vermelha suíça é vermelha. A Lua Crescente é vermelha no oriente. Vermelha é a sunga do salva vidas e o extrato de nossas dívidas. O rótulo das bebidas. As árvores esquecidas ( o pau brasil era vermelho). Vermelho é a tarja do remédio e o aviso canceroso do cigarro. Vermelho como o céu da boca se vinga na ponta de nossa língua! O entardecer, o alvorecer. O começo e o fim. A paixão, o tesão, o amor. O cansaço, o inchaço, a dor. A mão e a luva. A uva e o vinho. O freio, a porrada e o cartão. O rubi, o rabanete, a emoção. O cheque especial. A paciência nacional. O incêndio e o extintor de incêndio. O bombeiro e o carro de bombeiro. O sarampo e o catarro do tuberculoso. A boca escancarada e o vestido escandaloso. A luz indicativa dos prostíbulos. A brasa dos churrascos mais festivos. A surpresa flagrada dos maridos. Decoração nos parques de diversões. Vermelhos estandartes das revoluções. A praça tomada. O inferno em chamas. Os lençóis da cama. O mercúrio cromo. O raio lesar. O caixa eletrônico... O eletrocheque será vermelho até debaixo d’água com groselha! O cio volumoso das cadelas. As cortinas penduradas nas janelas. O molho preparado nas panelas. Glóbulos vermelhos. Lápis vermelhos. Vermelhos os joelhos apoiados. Vermelhos os desejos conquistados. O batom dos colarinhos comprometedores. O avental respingado dos doutores. Os naipes das cartas marcadas. Flamengo ocupando arquibancadas. O segredo da melancia. Detalhe de uma tatuagem. Revistas de sacanagem. A cor que o touro odeia. O sol que nos rodeia. Lágrimas de saudade na cadeia. O ciúme assasino de Caim. A ferida fratricida de Abel. A multidão enfurecida na arena. A gota derramada no poema. Vermelho é o signo do espelho onde nos fantasiamos de nós mesmos. Vermelhas as costas das joaninhas. Vermelhos aposentos das rainhas. Vermelhas capas de enciclopédia. Vermelhas gargalhadas de comédia. Alguns vermelhos ficaram verdes depois de maduros. Um tomate esmagado, um dinheiro trocado. Um rabo de galo, um ovo temperado. Um drinque por cima do outro pra afogar o coração equivocado. São sete os pecados vermelhos a confessar: o orgulho é exclusivamente vermelho; a gula é incontrolávelmente vermelha; a ira é inevitávelmente vermelha, a luxúria é necessáriamente vermelha, a preguiça é deliciosamente vermelha e a inveja... bem a inveja é uma merda mesmo. By Fernando Bonassi
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